segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mundos gigantes em universos particulares

No mundo corporativo existe uma prática usual de se olhar de cima para baixo e se dar destaque mais que o merecido a tudo o que é grande: o maior isso, o maior aquilo, ao grande feito, ao excepcional resultado e assim por diante. Não que esta postura ou tendência de mercado seja errada, afinal é do lucro e da alta performance que a grande engrenagem econômica funciona. Essa postura não acontece apenas na indústria do turismo, mas na política, no futebol, na sociedade como um todo. O erro está na dose, na afetação, ou na incapacidade de se reconhecer elementos extremamente importantes na cadeia produtiva do turismo, responsáveis pelo equilíbrio não só do profissional, mas da empresa e até do próprio mercado.

Temos visto e aprendido por meio dos grandes líderes que o segredo não está na montanha, mas no grão de terra. Ouvimos de presidentes e CEOS de corporações o seguinte: “é importante se atentar ao detalhe e ter humildade”.
Esta frase, vinda da boca de quem vem, parece uma contradição, afinal temos aprendido que vários impérios econômicos são construídos com arrogância, cinismo e alta dose de empáfia.
Parece regra geral: após ultrapassarem a árdua trilha da construção de um negócio, os presidentes e CEOS se tornam mais afáveis, acessíveis e humanos. A vida parece que ensina.
É impressionante como nos setores intermediários – carregados de profissionais extremamente competentes e competitivos – encontramos coordenadores, gerentes e até diretores que, para manterem seus cargos, utilizam práticas antropófagas que fariam inveja aos antigos ianomâmis.
Práticas antropófagas, em uma linguagem de mercado, podemos descrever com exemplos gerais e específicos: concorrência desleal manifestada por monopólio e dumping, usufruto de força política que se beneficia de editais públicos, sonegação fiscal e tributária para ficarmos nos mais gerais. Quanto aos exemplos mais específicos temos: não responder e-mails ou atender telefonemas ("diga que não estou"). Constroi-se um respeito ilusório assimilado nas práticas superficiais dos relacionamentos comerciais e corporativos. O orgulho e a soberba têm construído impérios egocêntricos fantásticos...
Aprendizagem
Em visita recente a Gramado, no Rio Grande do Sul, o Diário do Turismo conheceu o Parque Mini Mundo – uma jóia de museu construído por Heino e Otto Höppner na década de 80. Nele encontramos monumentos em miniatura como os castelos de Neuschwanstein e de Lichtenstein, miniaturas de estações ferroviárias do Brasil e do mundo, igrejas, aeroportos, pontes e uma “população” de mais de 2 mil pequenos bonecos entalhados em madeira. Um trabalho descomunal, quase anônimo, que recebe milhares de visitantes por mês.
Esse trabalho da família Höppner prova que nem tudo que é grande necessariamente é grandioso e, ao contrário, os detalhes e o pequeno podem também nos projetar para o que é maior. Trata-se de um exercício do minúsculo, da engenharia do microcosmo, que obedecem a um estilo e a um conjunto final, frutos de intensa pesquisa das plantas originais de cada construção, algumas do século XVIII. O mini-mundo dos artesãos Heino e Otto, extrapola nossos valores de grandeza e joga por terra esse hábito medíocre de valorizar apenas o que nos enche os olhos.

* Paulo Atzingen é jornalista, diretor-fundador do Diário do Turismo e em maio de 2009 foi nomeado Embaixador da Cidade do Rio de Janeiro

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